Vou
algumas vezes ao Chiado. Ainda dou algumas oportunidades à percentagem da costa
portuguesa que dá pelo nome de Cascais, Estoril, Carcavelos até chegarmos às
colinas lisboetas. Acredito que por aí, mesmo mantendo fervorosamente as poucas
tradições que nos restam se ouça o som do fado a piar fininho.
Sou da geração que esqueceu
Portugal, não pelo facto de não saber como o manter de pé, mas porque a nós que
nos vestimos de Prada e usamos Iphone nos julgam incompetentes nessa tarefa.
Não
sou da geração que finge não ver Portugal. Não me lembro de não gostarmos disto
aqui. Muita gente ainda se lembra dos versos de Camões, que é a literatura
portuguesa. É a poesia do povo. E a calçada lisboeta é a que está mais impregnada
de fado nosso.
Recordo-me de numa dessas ocasiões
onde dei oportunidade ao Chiado de se manifestar, encher as montras da Livraria
Lelo de beijos e talvez ter visto Florbela Espanca passar.
Foi nesse dia enchido em mais de
vinte e quatro horas, que decidi procurar Portugal. Talvez a nossa bebedeira
seja ainda acreditar na poesia que a ciência recusa. Talvez a nossa bebedeira
seja ser cego para não se ver que todos vestimos Prada e usamos Iphone.
Eu apenas acho, e Portugal também
achará, que a nossa embriaguez é saber que toda essa poesia é verdadeira.
Não me recordo de nenhuma história
decorrida no nosso chão não referir amor, paixão ou morte.
Os portugueses ainda insistem em
manter a bandeira. Não que não saibamos o que queremos e onde queremos estar e
nos iludimos em tecidos tingidos.
Queremos estar aqui e toda a gente
concorda. Mas a verdade Portugal, é que agora por aqui não nos querem deixar
sonhar.
Não se enganem quando preferimos
jogar pelo seguro e viajar em económica para Londres, Paris ou Berlim e nos
matamos à fome para arranjar emprego. Ainda sonhamos como Pessoa quis. Mantemos
essa consciência leve do que valemos e ainda damos algumas oportunidades aos
nossos sonhos. Mas o mundo continua a encolher de cada vez que uma livraria
fecha.
Ainda temos alguma pele de galinha
quando o futebol nos entra em casa, mas o chão está seco. Está difícil de
andar.
As ruas cada vez mais estreitas, que
cospem desilusão de que cada vez que vemos os chefes de estado a pisar cigarros
portugueses. Lares portugueses.
E regressando a essa deambulação
pelo Chiado. A Lelo está fraca. A Espanca cada vez mais se some na poeira da
rua do Carmo, e o Grémio Literário já não abre portas a toda a gente.
O que esperamos é que voltem a andar
a pé. Que se lembrem do que Eça escreveu e do que Sophia de Mello Breyner nos
tentava alimentar. Fernando Pessoa entre outros foi um dos lunáticos que curou
Portugal das suas brincadeiras sujas de o estragar com mimos contemporâneos, e
o que resultou disso foi um país sem graça. Lisboa e Porto tristes. Coimbra
preguiçosa para os que aparecem na televisão.
O que esperamos é que se ultrapassem
a si mesmos e reconheçam que Sebastião faleceu e não quer voltar. Perecer e
ficar no vazio, e estamos cada vez perto disso.
O que desejamos? Desejamos o que
ainda se deseja nas casas dos alfarrabistas. Nas mercearias antigas e nas casas
de quem luta. Precisamos de poucos discursos que enterram Portugal e que
corroborem o resultado final da nossa entrada na União Europeia. Estamos mais
sozinhos que acompanhados desde o nascimento do Euro.
Precisamos de nacionalizar Portugal.
Que nos dêem motivos para ter filhos. Motivos que nos tirem a vontade de querer
procurar o nosso país nessas esquinas que cheiram a cerveja e a corrupção.
Precisamos da balança equilibrada e
de livros que ditem o que está certo e que empurrem o mal das nossas
fronteiras.
É que na casa do Povo ainda se sonha.
Cá, como eu, ainda se sonha com vinte anos e até morrer.
Cá a gente fala, fala, fala. A pá do
povo está emoldurada na sala.
Está muito bonito e verdadeiro. Chegou a hora de darmos de novo vida e brilho a Portugal e a verdade é que não nos falta vontade ou ideias. O problema é que, mesmo tendo motivo, nos falta motivação. Porque ainda precisamos de sentir que merecem o que estamos a fazer. E isso é estranho, porque o que quer que façamos pelo nosso país, fazemos também por nós. Temos de ressuscitar Portugal, a coragem do herói Luso.
ResponderEliminarEste texto descreve muita da realidade. Mas, a verdade, é que nós, "geração do Iphone", não temos instrumentos para lutar contra quem nos deita abaixo. Nós sonhamos e lutamos (falo pelos que conheço) mas cortam-nos as bases por aqui...e é frustrante lembrar de Portugal se ele nos faz isto...mas, apesar de tudo, eu gosto e tenho orgulho de viver cá.
ResponderEliminarAdorei este texto e a força que transmite acerca da essência de Portugal! Está realmente na altura de fazermos mais pelo nosso país pelo qual, apesar de tudo, continuo a sentir um enorme orgulho :')
ResponderEliminarSem querer eliminei o teu comentário da minha publicação, mas o que importa é que ainda o consegui ler: muito obrigado, é sempre um orgulho saber que gostam do nosso blogue :')
ResponderEliminarQuanto ao teu, vou continuar a visitá-lo, de certeza.