janeiro 05, 2012

licor literário

Tenho o prazer de lhes dizer que não são meus. São longínquos e pertencem à distância como a terra se faz de húmus. Não são lugares onde eu nasci, mas a vida leva-me até lá e vejo-os pendurados em cada prateleira. Inertes, estáticos e protegidos da insegurança e destreza da solidão que o tempo manuseia sem pensar direito. Tenho-lhes as sombras das árvores, os carreiros que levam aos rios e as luzes que trespassam as folhas e as plantas rasteiras que inundam o chão. A cal, branca, ténue da vida trá-los até mim. Tenho-lhes o sabor intenso, não o amargo e hostil, o sabor forte da realidade como um girassol num dia solarengo. Tenho-lhes aquela força que vem no corpo de um homem guerreiro e de uma mulher que sonha. Tenho-lhes tudo sem sugar nada do seu ventre. Tenho-lhes o sorriso contemplado como um quadro a tintas desterradas e que mancham o chão do atelier. Tenho-lhes a virtude e a presença de espírito. A chuva que cai miudinhas e sorri por entre os vidros apaixonados e o calor que queima o corpo quando não aguenta a temperatura. Tenho-lhes a fé de que são meus, seja em que livro for.

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