julho 22, 2015

As ameixas da Isabel

As ameixas da Isabel são amarela, pequenas, com vestígio de arbusto e vieram - carreguei-as eu - num caixote preto da quinta. Elas vieram, ainda nascidas da árvore lá de longe, e como-as no escritório. Leio a cartas de Chatwin e percebo que somos todos nómadas. A civilização é o produto desse princípio.


julho 16, 2015

O Arquivo

Entre outras coisas o Manuel mostrou-me o site da Biblioteca do Congresso com os seus sistemas de catalogação de invejar. Apanhei a sua pasta de cabedal antiga de soslaio e imaginei-o na carteira da universidade pensando nas monarquias. Agora explicava-me a gafe cometida por um director de uma faculdade, o qual não sabia a diferença entre uma monarquia e uma república. Desejei que o tempo não passasse tão depressa aquando da minha estadia ao lado do Manuel na sua secretária que contém mundos.
Guardo sempre na memória as listas de filmes e livros recomendados na esperança de um dia, à sua semelhança, sentar-me numa poltrona e ler até ao fim da minha vida.

julho 04, 2015

O mistério de Edwin Drood

Não diria certamente que Jessica estaria no barco, mas com toda a frota que se encontrava no cais imaginei que a jovem que velejara até ao Cabo Horn estaria a descobrir mares. Era a sua vocação. Por aqui eu saboreava a temperatura do sol no meu cabelo entrançado, assim como o ritmo das gaivotas. Desiludi-me com o preço das relíquias da livraria Galileu embora me maravilhasse o facto de haver uma edição do natal de 1875 assinada pela proprietária do livro (ou proprietário) cujo apelido se assemelhava a Zingman. O livro tinha sido publicado em 1870 e narrava mistérios, recordo-me. Deixei-o lá entre os milhares de livros empilhados e desajeitados da livraria incluindo As viagens de Gulliver de Jonathan Swift e Tarzan de Burroughs. Depois segui a rota da vila, descobri um livro usado sobre um viajante de mota e dei-me por contente.Interpretei a vida dos que passavam junto à beira mar na baía, enquanto eu bronzeava os pés e via os miúdos que saltavam do pontão para a água salgada. Eram certamente americanos, corajosos, brilhantes. Muitos depois deles se seguiriam talvez atraídos pelos barcos, pelo perigo. Quanto a mim seriam as ondas, o dançar das ondas, a sua contínua repetição que não traz novidade, mas segurança.
Eu precisava de segurança.