Deixa-me respirar longamente, longamente, o aroma dos teus cabelos, neles mergulhar todo o meu rosto, como um homem sedento na água de uma nascente, e agitá-los com a mão como um lenço aromático, para sacudir recordações no ar.
Se pudesses saber tudo aquilo que vejo! Tudo aquilo que eu sinto! Tudo o que ouço nos teus cabelos! A minha alma viaja por sobre o perfume como a alma dos outros homens sobre a música.
(…) No oceano da tua cabeleira avisto um porto irrompendo em cantos melancólicos, homens vigorosos de todas as nações e navios de todos os formatos recortando arquiteturas finas e complicadas num céu imenso em que preguiça o eterno calor.
Nas carícias da tua cabeleira reencontro as demoras das longas horas passadas num divã, no quarto de um belo navio, embaladas pelo rolar imperceptível do porto, entre os vasos de flores e os cântaros refrescantes. (…)
Deixa-me morder demoradamente as tuas tranças pesadas e negras.
Quando mordisco teus cabelos elásticos e rebeldes, julgo estar a mastigar recordações.
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