O trovão caiu durante a aula do Renascimento. Da boca da professora saíram palavras sobre a idade das trevas, e por momentos voltámos à realidade dos pecados e à história deliciosa, no entando trágica.
Ontem um professor meu disse que o cristianismo pôs fim à tragédia, à dimensão trágica da existência, porque na Grécia Antiga o destino era qualquer coisa que nem os deuses podiam controlar, e o destino não tinha uma função moral, de castigar o mau e beneficiar o bom, o professor deu como exemplo a tragédia do Rei Édipo: se se tratasse de um castigo divino, não haveria dimensão trágica, o trágico é que independentemente de tudo o que faças ou que os deuses possam fazer, está escrito, assim será.
Não sei muito mais... O professor estava a falar da contraposição que Hegel faz entre a figura de Ulisses e a de Abraão, que é implicitamente a contraposição entre Atenas e Jerusalém, e que foi do encontro entre estas duas civilizações que se gerou a nossa, ocidental. Ulisses parte de Ítaca e depois de vinte anos, volta a Ítaca, que é voltar a si mesmo, a vida de Ulisses, o seu percurso, é circular, ele volta a onde começou. Abraão não, ele é um errante. Abandona a terra natal e não volta mais, não volta a si mesmo. O percurso de Abraão é como uma linha recta. Isto tem que ver com as concepções do tempo, o tempo dos gregos era cíclico, o tempo judaico-cristão é rectilíneo... e finito. O tempo é também uma criatura. Teve início, e terá um fim, no dia do Juízo. (Disto falei no semestre anterior, em Filosofia da História...) A figura de Ulisses é imagem do Ser, do Ser segundo Hegel. Ele diz que o Ser no início é um puro indeterminado. No início o Ser é. É, meramente. Mas é o quê? E aqui Hegel é grande quando diz que no início o Ser é Nada. No início o Ser e o Nada coincidem, porque não pode atribuir-se nenhuma determinação ao ser. Então a história do Ser há de ser a história da determinação do Ser, auto-determinação. Quando surge a consciência o Ser sai de si mesmo, exterioriza-se, e então começa o processo de se determinar a si mesmo, conhecer-se a si mesmo, tendo em vista o saber absoluto, que está no fim, o fim seria o regresso do ser a si mesmo, porém agora completamente determinado, completamente conhecedor de si mesmo. Círculo.
Ontem um professor meu disse que o cristianismo pôs fim à tragédia, à dimensão trágica da existência, porque na Grécia Antiga o destino era qualquer coisa que nem os deuses podiam controlar, e o destino não tinha uma função moral, de castigar o mau e beneficiar o bom, o professor deu como exemplo a tragédia do Rei Édipo: se se tratasse de um castigo divino, não haveria dimensão trágica, o trágico é que independentemente de tudo o que faças ou que os deuses possam fazer, está escrito, assim será.
ResponderEliminarque bonito!conta-me mais sobre isso. fiquei tão curiosa
EliminarNão sei muito mais... O professor estava a falar da contraposição que Hegel faz entre a figura de Ulisses e a de Abraão, que é implicitamente a contraposição entre Atenas e Jerusalém, e que foi do encontro entre estas duas civilizações que se gerou a nossa, ocidental. Ulisses parte de Ítaca e depois de vinte anos, volta a Ítaca, que é voltar a si mesmo, a vida de Ulisses, o seu percurso, é circular, ele volta a onde começou. Abraão não, ele é um errante. Abandona a terra natal e não volta mais, não volta a si mesmo. O percurso de Abraão é como uma linha recta. Isto tem que ver com as concepções do tempo, o tempo dos gregos era cíclico, o tempo judaico-cristão é rectilíneo... e finito. O tempo é também uma criatura. Teve início, e terá um fim, no dia do Juízo. (Disto falei no semestre anterior, em Filosofia da História...) A figura de Ulisses é imagem do Ser, do Ser segundo Hegel. Ele diz que o Ser no início é um puro indeterminado. No início o Ser é. É, meramente. Mas é o quê? E aqui Hegel é grande quando diz que no início o Ser é Nada. No início o Ser e o Nada coincidem, porque não pode atribuir-se nenhuma determinação ao ser. Então a história do Ser há de ser a história da determinação do Ser, auto-determinação. Quando surge a consciência o Ser sai de si mesmo, exterioriza-se, e então começa o processo de se determinar a si mesmo, conhecer-se a si mesmo, tendo em vista o saber absoluto, que está no fim, o fim seria o regresso do ser a si mesmo, porém agora completamente determinado, completamente conhecedor de si mesmo. Círculo.
Eliminarobrigada pela explicação. Gostei muito!
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